Dirigido por Baz Luhrmann
Por Flávio Brun
É difícil imaginar uma obra conseguir juntar "The sound of music" (canção-título do filme "A noviça rebelde") e "Like a virgin" (da Madonna) e ainda manter uma história coerente, porém "Moulin Rouge!"consegue fazer isso e muitas outras coisas impensáveis até o momento. Graças a esse filme, o gênero musical reapareceu de cara nova e voltou a fazer parte da cultura popular.
"Havia um garoto estranho e encantado" - esse "garoto" é Christian (interpretado por Ewan McGregor), um escritor que possui uma "ridícula obssessão por amor" (palavras de seu pai). Pobre, porém talentoso, Christian resolve ir a Paris, levado pela onda da revolução boêmia - cujos ideais eram liberdade, beleza, verdade e amor - e pretende escrever sua maior obra que contempla todos os ideais, principalmente amor. Seu problema é que ele nunca havia se apaixonado e então não tinha como escrever sobre algo que nunca havia sentido. Após uma série de incidentes que parecem ter saído de um curta dos Looney Tunes e uma visão de uma fada verde saindo de uma garrafa de absinto, Christian consegue sua oportunidade de conhecer o tão nobre sentimento e ainda por cima poderá escrever sua obra.
"Nós vivemos em um mundo materialista" - e Satine (Nicole Kidman) é uma garota materialista. Pelo menos essa é a maneira que somos apresentados à protagonista da história. Satine é a cortesã que trabalha no Moulin Rouge, o mais famoso bordel parisiense, e a garota é a atração principal do lugar. Na primeira noite de Christian no Moulin Rouge, Satine confunde-o com um duque, e se apaixona por ele por acidente, quando deveria se apaixonar pelo verdadeiro duque, causando várias situações engraçadas no começo, e perigosas no fim. Como sabemos desde os primeiros minutos do filme, Satine sofre de uma doença mortal que não a deixará viva até o fim do filme, o que torna "Moulin Rouge!" um musical atípico no sentido de que não apresenta uma história de tom alegre e feliz.
Os coadjuvantes da história formam uma coleção de personagens das mais variadas personalidades possíveis - Zidler, o dono do bordel que sonha em transformar o moinho vermelho em uma casa de espetáculos; Toulouse Latrec, um anão boêmio que tornou-se figura lendária do verdadeiro Moulin Rouge; o duque, o grande vilão da história cujas aparições e ingenuidade beiram o patético, porém sua presença e poder são ameaçadores. Além desses, temos várias dançarinas de cancã, um guarda-costas matador de aluguel e alguns artistas boêmios - incluindo um argentino que sofre de narcolepsia e dorme nas horas mais impróprias. Apenas com os nomes creditados, também temos Placido Domingo, como a lua cantante, Ozzy Osbourne, que apenas faz uma pequena voz de fundo, e Kylie Minogue como a fadinha verde.
"Moulin Rouge!" obtém atuações de primeira grandeza de maior parte do elenco - com destaque para Nicole Kidman, que brilha como um diamante ao interpretar Satine (seus momentos no elefante com Christian são ótimos). O problema principal do elenco é Richard Roxburgh como o duque, interpretando o mesmo de forma totalmente caricata - se essa era a intenção do diretor, não foi uma decisão acertada - porém não é esse detalhe que diminuirá a apreciação do filme. Diferentemente do costume praticado nos musicais antigos de dublar os atores nos momentos de canto, os atores em "Moulin Rouge" cantam e surpreendentemente bem.
Ao se falar da história de musicais, "Moulin Rouge!" garantiu seu lugar na história do cinema ao apresentar o filme mais vibrante, colorido e frenético que o gênero já viu. Em uma extravagância sonora e visual, esse filme apresenta uma história de amor (tema que nunca se tornará ultrapassado) embalada por músicas que são parte da cultura popular de artistas como Madonna, Queen, Nirvana, Elton John, entre muitos outros. Essa forma de montar um musical já havia sido usada em 1952, quando "Cantando na chuva" reuniu várias músicas conhecidas na época e usou uma história simples para reunir tudo. A grande diferença de "Moulin Rouge!" para "Cantando na chuva", no quesito de encaixe das músicas na história, é que em "Moulin Rouge!" os diálogos e a história são contados usando trechos das canções, enquanto em "Cantando na chuva" as músicas parecem apenas uma desculpa para o filme ter sido feito.
Em 1997, o diretor Baz Luhrmann havia feito sua visão moderna de "Romeu e Julieta", mantendo o texto original de William Shakespeare e atualizando o cenário para uma visão moderna da história. Em "Moulin Rouge!", Luhrmann usou do estilo inovador em cinematografia e criou a Paris que todo turista tem em mente, com todas as cores e sons que apenas o gênero musical pode apresentar. O trabalho artístico desempenhado no filme é algo sem precedentes, onde as cores são quase como um personagem - um exemplo disso é ver que fora da casa noturna, a cidade se apresenta apenas em tons cinzentos, porém ao entrar lá se vê uma explosão de cores que chega a ser difícil de acompanhar. A fotografia do filme usa ao extremo de cenários digitais e de cores altamente saturadas, comparável aos grandes musicais em Technicolor dos anos 40 e 50. Os figurinos também são um espetáculo à parte, com os vestidos esvoaçantes das dançarinas de cancã, lingerie de Satine, entre vários outros exemplos de um trabalho bem feito na área. A direção de arte é mais um exemplo de como a área técnica do filme foi bem trabalhada - a cada vez que se assiste se nota algum detalhe que não se havia notado antes.
O feito mais notável de "Moulin Rouge!", além das ótimas músicas (a grande maioria delas são facilmente reconhecíveis para quem tem o mínimo conhecimento musical) e do trabalho artístico envolvido no filme, é sua edição. Aqui vemos uma obra composta de centenas de cenas curtíssimas, com cortes ininterruptos durante os números musicais, em um estilo de videoclipe constante. A impressão que dá ao término do filme é que assistimos ao videoclipe de uma música de duas horas de duração, totalmente atordoados (no bom sentido) pelo ritmo non-stop criado por Luhrman. Esse é um dos motivos pelos quais o filme fez mais sucesso no mercado doméstico que no cinema - a familiarização das pessoas com as músicas e a possibilidade de poder assitir apenas o trecho que preferir.
Um dos filmes mais importantes da década, "Moulin Rouge" é considerado um dos maiores musicais já feitos, e com razão. Responsável pela ressurreição do gênero - nenhum musical tinha sido indicado ao Oscar de melhor filme desde "All that Jazz", em 1979 - esse foi um dos grandes injustiçados da premiação da Academia ao perder o prêmio de melhor filme para "Uma mente brilhante". Para quem diz que não gosta de musicais, esse é o filme para descobrir que o gênero é capaz de unir história e música com perfeição. Se a história não agradar, as músicas certamente irão.
"Havia um garoto estranho e encantado" - esse "garoto" é Christian (interpretado por Ewan McGregor), um escritor que possui uma "ridícula obssessão por amor" (palavras de seu pai). Pobre, porém talentoso, Christian resolve ir a Paris, levado pela onda da revolução boêmia - cujos ideais eram liberdade, beleza, verdade e amor - e pretende escrever sua maior obra que contempla todos os ideais, principalmente amor. Seu problema é que ele nunca havia se apaixonado e então não tinha como escrever sobre algo que nunca havia sentido. Após uma série de incidentes que parecem ter saído de um curta dos Looney Tunes e uma visão de uma fada verde saindo de uma garrafa de absinto, Christian consegue sua oportunidade de conhecer o tão nobre sentimento e ainda por cima poderá escrever sua obra.
"Nós vivemos em um mundo materialista" - e Satine (Nicole Kidman) é uma garota materialista. Pelo menos essa é a maneira que somos apresentados à protagonista da história. Satine é a cortesã que trabalha no Moulin Rouge, o mais famoso bordel parisiense, e a garota é a atração principal do lugar. Na primeira noite de Christian no Moulin Rouge, Satine confunde-o com um duque, e se apaixona por ele por acidente, quando deveria se apaixonar pelo verdadeiro duque, causando várias situações engraçadas no começo, e perigosas no fim. Como sabemos desde os primeiros minutos do filme, Satine sofre de uma doença mortal que não a deixará viva até o fim do filme, o que torna "Moulin Rouge!" um musical atípico no sentido de que não apresenta uma história de tom alegre e feliz.
Os coadjuvantes da história formam uma coleção de personagens das mais variadas personalidades possíveis - Zidler, o dono do bordel que sonha em transformar o moinho vermelho em uma casa de espetáculos; Toulouse Latrec, um anão boêmio que tornou-se figura lendária do verdadeiro Moulin Rouge; o duque, o grande vilão da história cujas aparições e ingenuidade beiram o patético, porém sua presença e poder são ameaçadores. Além desses, temos várias dançarinas de cancã, um guarda-costas matador de aluguel e alguns artistas boêmios - incluindo um argentino que sofre de narcolepsia e dorme nas horas mais impróprias. Apenas com os nomes creditados, também temos Placido Domingo, como a lua cantante, Ozzy Osbourne, que apenas faz uma pequena voz de fundo, e Kylie Minogue como a fadinha verde.
"Moulin Rouge!" obtém atuações de primeira grandeza de maior parte do elenco - com destaque para Nicole Kidman, que brilha como um diamante ao interpretar Satine (seus momentos no elefante com Christian são ótimos). O problema principal do elenco é Richard Roxburgh como o duque, interpretando o mesmo de forma totalmente caricata - se essa era a intenção do diretor, não foi uma decisão acertada - porém não é esse detalhe que diminuirá a apreciação do filme. Diferentemente do costume praticado nos musicais antigos de dublar os atores nos momentos de canto, os atores em "Moulin Rouge" cantam e surpreendentemente bem.
Ao se falar da história de musicais, "Moulin Rouge!" garantiu seu lugar na história do cinema ao apresentar o filme mais vibrante, colorido e frenético que o gênero já viu. Em uma extravagância sonora e visual, esse filme apresenta uma história de amor (tema que nunca se tornará ultrapassado) embalada por músicas que são parte da cultura popular de artistas como Madonna, Queen, Nirvana, Elton John, entre muitos outros. Essa forma de montar um musical já havia sido usada em 1952, quando "Cantando na chuva" reuniu várias músicas conhecidas na época e usou uma história simples para reunir tudo. A grande diferença de "Moulin Rouge!" para "Cantando na chuva", no quesito de encaixe das músicas na história, é que em "Moulin Rouge!" os diálogos e a história são contados usando trechos das canções, enquanto em "Cantando na chuva" as músicas parecem apenas uma desculpa para o filme ter sido feito.
Em 1997, o diretor Baz Luhrmann havia feito sua visão moderna de "Romeu e Julieta", mantendo o texto original de William Shakespeare e atualizando o cenário para uma visão moderna da história. Em "Moulin Rouge!", Luhrmann usou do estilo inovador em cinematografia e criou a Paris que todo turista tem em mente, com todas as cores e sons que apenas o gênero musical pode apresentar. O trabalho artístico desempenhado no filme é algo sem precedentes, onde as cores são quase como um personagem - um exemplo disso é ver que fora da casa noturna, a cidade se apresenta apenas em tons cinzentos, porém ao entrar lá se vê uma explosão de cores que chega a ser difícil de acompanhar. A fotografia do filme usa ao extremo de cenários digitais e de cores altamente saturadas, comparável aos grandes musicais em Technicolor dos anos 40 e 50. Os figurinos também são um espetáculo à parte, com os vestidos esvoaçantes das dançarinas de cancã, lingerie de Satine, entre vários outros exemplos de um trabalho bem feito na área. A direção de arte é mais um exemplo de como a área técnica do filme foi bem trabalhada - a cada vez que se assiste se nota algum detalhe que não se havia notado antes.
O feito mais notável de "Moulin Rouge!", além das ótimas músicas (a grande maioria delas são facilmente reconhecíveis para quem tem o mínimo conhecimento musical) e do trabalho artístico envolvido no filme, é sua edição. Aqui vemos uma obra composta de centenas de cenas curtíssimas, com cortes ininterruptos durante os números musicais, em um estilo de videoclipe constante. A impressão que dá ao término do filme é que assistimos ao videoclipe de uma música de duas horas de duração, totalmente atordoados (no bom sentido) pelo ritmo non-stop criado por Luhrman. Esse é um dos motivos pelos quais o filme fez mais sucesso no mercado doméstico que no cinema - a familiarização das pessoas com as músicas e a possibilidade de poder assitir apenas o trecho que preferir.
Um dos filmes mais importantes da década, "Moulin Rouge" é considerado um dos maiores musicais já feitos, e com razão. Responsável pela ressurreição do gênero - nenhum musical tinha sido indicado ao Oscar de melhor filme desde "All that Jazz", em 1979 - esse foi um dos grandes injustiçados da premiação da Academia ao perder o prêmio de melhor filme para "Uma mente brilhante". Para quem diz que não gosta de musicais, esse é o filme para descobrir que o gênero é capaz de unir história e música com perfeição. Se a história não agradar, as músicas certamente irão.
4 comentários:
Muito bom esse filme! tem horas que tu realmente quase não entende o que está passando na tela, de tanta cor, som e vida, muito legal mesmo!
As músicas são fantásticas, principalmente "Come what may", que é a única que é original do filme e não uma versão. Muito bonita. E a versão de Roxane na voz do argentino é 28727985982598 vezes melhor que a do "The Police" (IMHO).
É isso aí, vida longa ao Pipoca com sabor de cinema! Para isso, alimente-o sempre que puder com novas críticas, por favor!
Um abraço e boa sorte o/
Eu demorei pra assistir a este filme! Graças ao Flávio que eu vi Moulin Rouge pela primeira vez e ADOREI ! Eu tinha preconceitos contra musicais, mas este longa quebrou todos!
História, música, figurino, coreografia, etc, tudo perfeito!!
Parece até um desenho animado Disney! hehehehe
Filme maravilhoso!!!
Ótima crítica, Flávio!
Continue escrevendo!!!
Oii..estou pesquisando sobre o Moulin Rouge porque vou realizar um trabalho na minha escola, eu precisava do trailer com legenda..vc sabe onde eu encontro?
Mto obrigada!
Espero sua resposta no meu e-mail:
jujuperes14@hotmail.com
Não haveria filme melhor para você começar o seu blog. Moulin Rouge é o meu filme favorito de todos os tempos!!
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