segunda-feira, 14 de maio de 2007

CASSINO

Cassino (Casino, 1995)
Dirigido por Martin Scorsese
Por Flávio Brun

No começo dos anos 90, o diretor Martin Scorsese já havia se firmado como um dos melhores diretores americanos, com uma filmografia de dar inveja. Em 1976, Scorsese fez seu impactante "Taxi driver", uma fábula sobre a noite em uma Nova York suja e violenta. Em 1980, o diretor fez o filme que muitos consideram sua obra-prima, "Touro indomável", um drama intimista sobre a carreira de um lutador de boxe. Dez anos mais tarde, seu "Os bons companheiros" se tornou um dos melhores filmes de máfia já feitos. Em 1995, "Cassino" começa a mostrar sinais de falta de originalidade por parte do diretor.

Las Vegas é um mundo à parte. Escondida no meio do deserto de Nevada, a capital mundial do jogo é o cenário para "Cassino", uma história de máfia, dinheiro e traição, baseada em uma história real. Para interpretar essa história, Robert de Niro faz o papel de Sam Rothstein, um homem que sabe tudo sobre todo tipo de jogo, e que se torna responsável pelo Tangiers, o cassino ao qual o título do filme se refere. Seu amigo de infância Nicky Santoro (interpretado por Joe Pesci), assim como Sam, trabalha para a máfia e após algum tempo se torna uma das pessoas mais procuradas pela polícia - conseqüência de seus métodos de se negociar e seu temperamento psicótico. Sam se apaixona por Ginger (Sharon Stone), a clássica mulher interesseira, cujo único real interesse na vida é ter mais e mais dinheiro (e gastá-lo, é claro).

O único reconhecimento que o filme teve nas premiações do Oscar de 1995 foi a indicação de Sharon Stone ao prêmio de melhor atriz coadjuvante, o que foi merecido, apesar da personagem interpretada pela atriz ser totalmente descontrolada na segunda metade do filme. O fato de ninguém mais no elenco ter recebido atenção da academia, e o filme em si também ter sido negligenciado no restante da premiação foi injustiça, principalmente se lembrarmos que o ano de 1995 foi extremamente fraco em matéria cinematográfica - os melhores filmes daquele ano eram "Se7en" e "Cassino". Robert de Niro, figurinha carimbada nos filmes de Scorsese (ele está presente em quase todos os melhores filmes do diretor), faz uma boa interpretação como Sam - sutil e competente. O elo fraco do elenco é Joe Pesci - que muitos consideram um dos melhores do filme. Pesci faz de Nicky uma pessoa extremamente psicótica e sem noção de limites, o que após um ponto chega a ser difícil de aceitar e torna-se irritante.

O filme é povoado por características típicas de vários filmes de Scorsese: narração não linear (que aqui acabou se tornando um pouco confusa), edição ágil (sempre feita pela competente Thelma Schoonmaker), uma bela fotografia, com cores bem saturadas e trilha sonora com músicas populares que se encaixam perfeitamente no contexto das cenas. Os créditos iniciais, feitos pelo mesmo grupo que fez os créditos de abertura inesquecíveis de "Psicose", "Um corpo que cai" e muitos outros, são hipnotizantes, logo após a explosão do carro e com Robert de Niro voando pelas chamas ao som de música clássica. Tecnicamente falando, não há do que reclamar do filme.

A falta de originalidade de "Cassino" se deve ao fato de que Scorsese decidiu não arriscar em criar algo novo e o filme todo parece uma junção de fórmulas já usadas em seus filmes anteriores apenas com uma roupagem nova. As semelhanças de "Cassino" com "Os bons companheiros" são inegáveis: ambos os filmes começam com algum acontecimento pivô da história, e depois vemos o que acontece antes disso. O tipo de trilha sonora usado também é extremamente semelhante ao usado no filme predecessor, assim como boa parte do elenco - coadjuvantes e principais - também estavam em "Os bons companheiros". O estilo do filme (fotografia, musica, edição) é semelhante também, principalmente o uso da narração por vários personagens comentando os acontecimentos que se passam na tela. Assim como "Os bons companheiros", o roteiro de "Cassino" também é adaptado de um livro de Nicholas Pileggi. A impressão que dá ao fim da película é uma sensação de déjà vu, em um bom filme, porém em uma tentativa de repetir o sucesso que, de certa forma, saiu pela culatra.

Embora a famosa fórmula máfia-ascenção-poder-fracasso já ter sido usada à exaustão, "Cassino" consegue usar isso de forma eficiente e oferece três horas de entretenimento (embora seja questionável considerar como entretenimento um homem ser esfaqueado com uma caneta). O que prejudica o filme é a dificuldade de se analisar o filme isoladamente do resto da filmografia de seu diretor, mas ignorando-se o resto da obra de Scorsese, esta é uma obra-prima. "Cassino" pode ser considerado uma cópia de carbono de "Os bons companheiros", mas levando em conta que o objeto copiado era material de qualidade, a cópia ainda assim é superior à maioria dos filmes lançados na telona.

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