quarta-feira, 2 de maio de 2007

O FANTASMA DA ÓPERA

O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera, 2004)
Dirigido por Joel Schumacher
Por Matheus Mocelin Carvalho

Com o início de uma nova década, parecia que o filme musical havia caído novamente nas graças do público. Com as eventuais exceções, como Grease (1978) e O Show Deve Continuar (1979) e os musicais Disney nos anos 90, o gênero estava dormente desde a metade dos anos 60. Provavelmente o público havia se tornado cínico demais para aceitar os enredos geralmente ingênuos e simplistas dos musicais, e foi necessário um diretor visionário como Bazz Luhrmann para injetar nova vida ao formato. Fazendo um melange de sucessos da música popular com uma edição ágil e moderna, seu Moulin Rouge (2001) criou uma verdadeira sensação, sendo até mesmo indicado ao Oscar de Melhor Filme. No ano anterior, Dançando no Escuro já havia recebido atenção em meio aos fãs de cinema. Já em 2002, a adaptação cinematográfica do sucesso da Broadway Chicago gerou uma das maiores bilheterias do ano, e a produção conseguiu a proeza de ser o primeiro musical a levar o Oscar desde Oliver! (1968). Infelizmente, os filmes que pareciam ter sido o renascimento do gênero logo mostraram ser outras exceções. Em 2004 chegou às telas O Fantasma da Ópera, baseado no popular musical de Andrew Lloyd Webber. Apesar do grande pedigree (cujo show bateu o recorde de tempo em cartaz na Broadway), o filme foi duramente criticado e sua bilheteria não fez jus à lucrativa propriedade. Apesar de Os Produtores de 2005 também não conseguir dar continuação à onda de sucessos, Dreamgirls se consagrou como um dos maiores filmes de 2006.

Já adaptado anteriormente para o cinema (a versão mais popular continua sendo a de 1925, com Lon Chaney como o Fantasma), O Fantasma da Ópera tem início na Paris de 1919, em um leilão na abandonada Paris Opera House. Graças a um flashback, voltamos a 1870, onde o teatro estava em seus anos áureos. Ensaios estão acontecendo para Hannibal de Chalumeau, apresentando a estrela da ópera Carlotta Giudicelli (Minnie Driver). Quando a cantora sofre um “acidente” (causado na verdade por uma figura misteriosa), a corista Christine Daaè (Emmy Rossum) a substitui na peça, e recebe grande aclamação do público. Na sua noite de estréia, ela reconhece na platéia Raoul (Patrick Wilson), o seu romance de infância. Mas Christine é assombrada por sonhos de uma figura que ela acha ser seu falecido pai, e que se apresenta para ela após sua estréia. O homem misterioso logo se revela na figura do Fantasma da Ópera (Gerald Butler), que tenta fazer o máximo para levar Christine ao estrelato. Logo, esta sua relação se transforma em obsessão, e a jovem se encontra no meio de uma disputa entre o Fantasma e Raoul.

O Fantasma da Ópera foi dirigido por Joel Schumacher, o homem responsável por transformar a franquia do Batman em um desfile de cores e carros alegóricos com Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997). Sendo este um musical suntuoso, Schumacher parece se sentir em casa com cenários e figurinos extravagantes e opulentos. De fato, o filme faz jus às suas indicações ao Oscar, pois, com suas luxuosas roupas e sua belíssima fotografia, é um dos filmes mais belos visualmente dos últimos anos. As canções de sucesso são as mesmas do musical da Broadway, das quais se destacam as memoráveis “The Phantom of the Opera” e “All I Ask of You”. Com tantos ingredientes que fazem um musical de qualidade, é uma pena que a construção da história não faça justiça ao conjunto total. A história de amor e obsessão está presente, mas sem a paixão e o medo que se poderia esperar. Isto pode ser culpado à falta de desenvolvimento dos personagens que, pulando de um número musical para outro, não conseguem demonstrar muito a relação existente entre si. Deste modo, o triângulo amoroso entre Christine, Raoul e o Fantasma é enfraquecido, pois parece não haver tempo o bastante para os personagens se apaixonarem.

O Fantasma da Ópera sempre foi um dos mais interessantes personagens da literatura, sendo um gênio que descabe a loucura graças à sua paixão pela sua amada. Podemos traçar as origens da história ao conto original de A Bela e a Fera, da alma torturada e deformada que implora por amor. Graças aos números musicais o Fantasma consegue expressar seus conflitos internos, mas ainda assim sentimos que mais poderia ter sido feito com o personagem, apesar da boa interpretação de Gerald Butler. Alguns fãs do musical original podem discordar, mas ele possui a presença e a voz para o personagem. A verdadeira estrela do filme, no entanto, é a bela Emy Rossum (de O Dia Depois de Amanhã e Sobre Meninos e Lobos), que ilumina a tela todos os momentos em que aparece. É impressionante que ela tinha apenas dezesseis anos durante a produção, pois ao mesmo tempo em que transparece uma inocência necessária para a personagem, demonstra grande segurança no papel, especialmente no que diz respeito a sua voz. O elo fraco do elenco é o inexpressivo Patrick Wilson, que torna o desfalcado triângulo ainda menos verossímil.

Apesar das necessárias adaptações, O Fantasma da Ópera parece ser mais fiel às suas origens teatrais do que a maioria dos musicais. Assim como nos palcos, parte dos diálogos é cantada ao invés de recitada, o que pode incomodar alguns espectadores menos acostumados com o formato. A história é contada através de um flashback, e Schumacher comete o erro de nos trazer para fora deste em momentos inoportunos e desnecessários ao meio da narrativa, como se subestimasse que o público fosse esquecer o prólogo inicial (explicado na última cena). Apesar de tais deficiências, o filme ainda consegue agradar por sua grandiosa trilha sonora e fantásticos valores de produção. Provavelmente espectadores menos exigentes apenas se deixarão levar pela história de amor e pelas canções, e talvez não percebam suas limitações. Fãs do musical também deverão ficar satisfeitos ao ver seus momentos favoritos personificados na tela, especialmente os que não tiveram a chance de assisti-lo no palco. Ainda assim, é uma pena que entre um número e outro e entre tantas trocas de roupa, os produtores tenham esquecido de dar maior alma aos personagens.

Nenhum comentário: