O pecado mora ao lado (The seven year itch, 1955)
Dirigido por Billy Wilder
Por Flávio BrunDirigido por Billy Wilder
A simples menção do nome de Marylin Monroe na maioria das vezes traz à mente a imagem da atriz tentando evitar que seu vestido branco suba com o vento. O que muita gente não sabe é que essa cena icônica do cinema é parte de um pequeno filme chamado "O pecado mora ao lado", uma comédia do brilhante diretor e roteirista Billy Wilder.
Desde antes do descobrimento da América, habitantes de Manhattan possuem um costume: todo ano, com a chegada do verão, as esposas e as crianças viajam para algum lugar ao norte para escapar do calor escaldante, enquanto os homens ficam na cidade fazendo suas tarefas (pescar, montar armadilhas e caçar). Mais de 500 anos depois, os homens continuam com o mesmo costume, e "O pecado mora ao lado" conta a história de Richard Sherman, que ao invés de pescar, montar armadilhas e caçar enquanto a família está longe, trabalha como editor de uma publicadora. No seu primeiro dia sozinho, Sherman conhece a nova vizinha do andar de cima (Marilyn Monroe) - tornando o título em português errôneo, pois o pecado mora em cima, e não ao lado - e logo começa a sentir a coceira da tentação - o título original do filme seria "A coceira dos sete anos", se referindo a uma teoria do filme que os homens são mais propensos ao adultério no seu sétimo ano de casamento.
A imaginação de Sherman está além do escopo abrangido por "fértil". Como diz sua esposa no filme, sua imaginação é "em cinemascope e com som estereofônico". As cenas mais engraçadas e divertidas são, de longe, quando Sherman está imaginando uma realidade paralela à que ele está vivendo, como por exemplo quando ele imagina uma discussão com sua esposa sobre as várias em que ele resistiu a mulheres se jogando em cima dele devido ao seu "charme animal" (uma vez que Sherman pode ser qualquer coisa, menos atraente), ou quando ele imagina ser apanhado pela mulher com outra em seu apartamento. Ao longo do filme, em vários momentos há a menção de algum elemento da cultura pop da época - um exemplo disso é em uma das cenas de imaginação de Sherman, em que a famosa cena do casal na praia ao bater das ondas de "A um passo da eternidade" é reproduzida em uma das referências mais descaradas já apresentadas - e o filme em momentos se auto-referencia, como na cena em que Sherman grita com um vizinho "quem você acha que está na cozinha, Marilyn Monroe?" ou a cena em que a esposa descreve a imaginação dele (o filme foi, de fato, filmado em cinemascope e com som estereofônico).
O filme é uma adaptação da peça de teatro homônima, e Tom Ewell repete seu papel da peça no filme, como Sherman. Na maioria dos casos em que um ator/atriz faz no cinema um papel que o consagrou no teatro, a atuação no cinema é digna de louvor, e com Ewell não foi diferente. Sua capacidade de expressão é fantástica, tornando impossível não rir de suas neuroses, além de suas caras e bocas ao longo do filme. Marilyn Monroe faz o papel da vizinha sem nome, personificando mais uma vez o estereótipo de loira burra, o qual odiava. A ingenuidade da vizinha ajuda a manter críveis as fantasias de Sherman, mas ao mesmo tempo perde a credulidade da audiência com relação a própria personagem.
Em 1955, o filme causou furor por sua ousadia para a época, apesar de que, se analisarmos o filme com os olhos de hoje, não se encontra nada de mais, parecendo até bastante inocente comparando com as comédias atuais. Na época, os responsáveis pela censura queriam proibi-lo, por apresentar um tema polêmico (adultério) como algo banal, mesmo não havendo cenas de real adultério (com exceção de um ou dois beijinhos de Sherman com a vizinha). Outra coisa que chocou foi a sensualidade exibida na tela, com a personagem de Marilyn com o dedão do pé preso na banheira, e até mesmo a famosa cena do vestido sendo levantado pela corrente de ar vinda do trem.
Quando se comenta sobre a obra do diretor Billy Wilder, "O pecado mora ao lado" normalmente é um de seus filmes menos citados, e de forma injusta. É claro que comparar essa simples comédia com obras máximas de seu currículo (como o brilhante "Crepúsculo dos deuses") é injusto, e até pode passar desapercebido, porém considerando a polêmica e o sucesso do filme na época de seu lançamento, esse é um filme que não deve ser ignorado. O humor mordaz de Wilder está presente aqui, além das ótimas atuações por parte do elenco. Sempre desafiando a indústria do cinema, Billy Wilder travou uma batalha para poder realizar esse filme, porém muito do conteúdo teve que ser alterado ou até mesmo cortado - a cena clássica do vestido teve que ser editada para que não aparecesse a calcinha de Marilyn, por exemplo. O resultado foi uma deliciosa comédia com altos níveis de insinuação e muita sensualidade por parte de Marilyn.
Em mais uma obra-prima, Billy Wilder mostra em "O pecado mora ao lado" que uma boa comédia não é feita apenas de uma série de cenas estúpidas com adolescentes bêbados e piadas de sexo, algo que o cinema atual parece ter esquecido, e sim de um roteiro inteligente com piadas sutis, que não subestimam a capacidade intelectual dos espectadores. Para quem gosta de comédias, ao invés de assistir filmes como "Um show de vizinha" ou qualquer outro do gênero comédia-adolescente-sem-cérebro, dê uma chance a esse clássico. A falta de nudez pode fazer falta, mas a beleza natural de Marilyn Monroe compensa qualquer nudez. Além do mais, comédias são comédias, e não tentativas frustradas de filmes pornô.
Um comentário:
Marylin é realmente um ícone e qualquer filme que a tenha no elenco já soa como grande obra (é quase como lembrar de Chaplin ou, cá pra nós, Mazaropi e suas comédias).
Vou confessar que não vi esse filme ainda, mas vontade não falta... =D
Impressão minha ou é um post pra cada um?! Hehehe...
Grande abraço!
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