domingo, 6 de maio de 2007

HOMEM-ARANHA 3

Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3, 2007)
Dirigido por Sam Raimi
Por Matheus Mocelin Carvalho

O que começou como um gênero composto basicamente de filmes camp nos anos 60 evoluiu em um filão de filmes arrasa quarteirão, onde seus personagens principais são emocionalmente atormentados e cuja profissão traz maiores cicatrizes do que glória. Estamos falando do gênero super-herói, cujas adaptações cinematográficas rendem milhões aos estúdios desde Superman em 1978. É interessante observar a evolução do gênero, pois, transcendendo sua categoria de filme pipoca, cada vez mais os diretores têm criado heróis de personalidade tridimensional, mostrando que pode ser um grande fardo ter superpoderes em um mundo caótico. Em 2002, a Columbia acertou em cheio ao transpor o Homem-Aranha para as telas, e o público imediatamente estabeleceu uma conexão com o fracote Peter Parker que era apaixonado por sua amiga de infância. “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” já dizia o tio Ben, e em Hollywood isso significa “com grandes bilheterias vêm grandes seqüências”.

Em contrapartida aos filmes anteriores, no início de Homem-Aranha 3 tudo está bem na vida de Peter Parker (Tobey Maguire): não só o Homem-Aranha é adorado pelo público de Nova York, o rapaz também conseguiu mediar sua vida como super-herói e como estudante e ainda encontrar tempo para dar atenção à sua namorada Mary Jane (Kirsten Dunst). Esta, por sua vez, continua com sua carreira de atriz, fazendo sua estréia em um musical na Broadway. Infelizmente os bons tempos não duram muito: seu antigo amigo Harry Osborn (James Franco) logo aparece na forma do Novo Duende para vingar a morte de seu pai (o Duende Verde do primeiro filme) ao mesmo tempo em que Flint Marko (Thomas Haden Church), o homem que matou o tio de Peter, foge da polícia e acaba sofrendo um acidente que o transforma no vilão Homem de Areia. Já no Daily Buggle, um novo fotógrafo chamado Eddie Brock (Topher Grace) tenta tomar seu emprego. Além disso, uma estranha substância negra vinda do espaço adere à sua roupa, lhe causando certas mudanças no comportamento.

Com tantos enredos paralelos, é admirável que Homem-Aranha 3 não tenha resultado em uma obra conturbada e turbulenta, o que não signifique que a produção ainda não apresente sua dose de problemas. Na tentativa de manter o filme coeso e amarrado, Sam Raimi e seus roteiristas Ivan Raimi e Alvin Sargent apelam para alguns artifícios que acabam tornando a narrativa mais artificial e menos verossímil. O roteiro utiliza de forma exagerada o formato de causa e conseqüência tão comum na narrativa clássica americana, onde um evento leva a outro e assim subseqüentemente. Deste modo, o espectador é obrigado a crer por três ou quatro vezes durante o filme em uma série de coincidências nas quais os personagens sempre se encontram no lugar errado e na hora errada. Homem-Aranha 3 também introduz muitos elementos novos e tenta amarrá-los com outros já previamente desenvolvidos. O principal caso é a aparição do vilão Flint Marko que, graças a uma descarada manipulação dos roteiristas, se tornou o assassino do tio Ben dando uma perspectiva diferente aos acontecimentos do primeiro filme. O desejo de amarrar todas as pontas (este filme tem mesmo o sabor de encerramento) gera um dos momentos mais duvidosos do filme, onde um mordomo é instituído da função de esclarecer fatos importantes da história.

Assim como Batman: O Retorno e Superman II¸ Homem-Aranha 3 apresenta a maior galeria de vilões da série. Não bastassem Harry e o Homem de Areia, o aracnídeo ainda tem que lidar com seu próprio comportamento agressivo causado pelo simbionte vindo do espaço e que, não será nenhum spoiler revelar, irá se tornar o vilão Venom. A conveniente solução para trabalhar com os três vilões foi se livrar de um deles no início (de certa forma) e deixar para introduzir outro apenas no terceiro ato. Apesar de esta ser uma adaptação dos quadrinhos, um homem feito de areia requer maior suspensão de descrença do que um homem vestido de duende que voa em um planador ou um homem com tentáculos de metal. Os efeitos especiais ajudam a criar um vilão impressionante tecnicamente e Church é um competente ator, mas os motivos para seus atos são um tanto superficiais. Com tantas histórias paralelas, alguns dos personagens ficam um pouco apagados. Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), o novo flerte de Peter, tem pouca função na história a não ser uma pedra no caminho de Mary Jane, enquanto a tia May (a ótima Rosemary Harris) apenas tem a função de oferecer seus conselhos e filosofias ao sobrinho, não tendo o mesmo papel ativo que teve no segundo filme.

Mesmo entre tantas batalhas, externas e internas, é louvável que o filme consiga reservar boa parte de sua duração para explorar a relação entre Peter e Mary Jane. O grande diferencial do filme é que MJ agora conhece a identidade secreta do herói, trazendo à mesa uma série de novas implicações. Em séries como a do Batman e de Superman, um elemento recorrente é o herói tentando esconder da mocinha sua verdadeira identidade em diversas situações. Em Homem-Aranha 3, o fato de Mary Jane estar ciente do alter-ego do companheiro dá nova dimensão à relação do par: além de ter de lidar com duas personalidades diferentes, ela também precisa suportar ver o sucesso de Peter enquanto sua carreira profissional desaba. A oportunidade é propícia para Kirsten Dunst mostrar seu amadurecimento como atriz e apresentar a melhor atuação do filme. As cenas entre os dois proporcionam alguns dos melhores momentos da película, estando livre das convenções narrativas que limitam diversos filmes de super-herói. Outro conflito de personalidades é a tão comentada batalha de Peter com ele mesmo. Sob o efeito do simbionte, ele adota um novo vestuário preto (tanto como Aranha quanto Peter) e um novo penteado que rendem inevitáveis comparações ao movimento emo. Mais agressivo e arrogante, o vemos sair às ruas de Nova York no melhor estilo John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite, em uma cena que atua como o oposto da seqüência “The Raindrops Keep Falling on My Head” do segundo filme (ainda que não exatamente com o mesmo efeito). Tobey Maguire parece se divertir interpretando a versão má de seu personagem, podendo fugir um pouco de sua habitual expressão de menino desamparado.

Não podemos esquecer que Homem-Aranha 3 é um dos grandes blockbusters do ano e que seu inflado orçamento de $250 milhões não foi gasto apenas em cenas de desenvolvimento de personagens. Ainda que em aparente menor quantidade devido à maior duração do filme (que acaba sendo algo positivo), as cenas de ação devem agradar aqueles que esperam ir ao cinema vibrar com o aracnídeo em ação. O dinheiro gasto aparece na tela e os efeitos especiais não desapontam – ainda que, como já ficamos tão acostumados (ou poderíamos dizer mimados) com as proezas do computador, cada vez mais se torna difícil ficar realmente impressionado com eles. A maioria das cenas de ação envolve pancadaria em queda livre, algo que acaba se tornando cansativo após a terceira ou quarta vez. O filme também faz uso do gasto artifício do momento deus ex machina, onde um personagem é salvo por outro na última hora. Curiosamente, a cena de ação mais efetiva do filme é um combate mano a mano entre Peter e Harry, cujo auxílio de efeitos especiais é mínimo.

Com Homem-Aranha 2, Sam Raimi criou o que muitos consideram o melhor filme de super-heróis já feito, conferindo uma grande responsabilidade ao terceiro episódio da série. Se Aranha 3 não consegue suprir todas as expectativas, ainda assim é um filme superior a qualquer aventura do X-Men e milhas a frente das bobagens de O Quarteto Fantástico. Com seus problemas narrativos, o filme talvez não se sustente tão bem quando analisado tão detalhadamente, mas o resultado final é outra adição de valor à saga do aracnídeo. Enquanto seus produtores não esquecerem que não foi a ênfase em efeitos especiais e sim o carisma do personagem e sua proximidade com o público que renderam tamanho sucesso à série, sempre será bom ter o velho amigo da vizinhança por perto.

4 comentários:

Unknown disse...

Teteu, adorei tua crítica de paixão.
Muito completa e sem repetições, ficou esplêndida!

Eu vou dizer uma coisa sem importância agora ta: tu escreve palavras difíceis e eu sou uma burra!! buaaa hahahahahahahaha!!

Não meche e continua no caminho.
Acho que tu consegue um bela vaga no www.cinemaemcena ou www.cinepop pq lá os crítics estão bem abaixo do teu nível ;)

beijão 8)

Unknown disse...

ou melhor... aliás, muitooo melhor! hehe ;D

teu nível de críticas está para sites como IGN... acho que assim mesmo, se eu não to loca ainda.. hehehe
ótimo site de filmes e em inglês ;D


bju bju

Márcio Zacarias disse...

É, não adianta, é aquela velha história do segundo filme da trilogia ser o melhor... Dificilmente o último da trilogia supera o segundo. Principalmente no caso do Homem-Aranha ^^

Gostei da crítica! Parabéns pra ti e pro Kbrun, que dure bastante este blog ^^

Anônimo disse...

Fala Matheus.
Pô, parece que só eu achei os efeitos deste filme de péssima qualidade. Com exeção do Homem-Areia e do resgate da Gween, o resto é terrivelmente mal feito. O Venom então, é um desastre.

E justamente a historia que tantos criticam, é que não é tão ruim assim. Só ficou cheia de buracos porque foi extremamente mal contada, mas a idéia era boa.

Opa, este terceiro HA é melhor que todos os filmes da franquia X e Quarteto?? Menos, né? HA3 é o penultimo da lista, à frente de Supermam - O Retorno. Aquilo sim, uma grande bobagem.