terça-feira, 1 de maio de 2007

AMOR, SUBLIME AMOR

Amor, sublime amor (West Side Story, 1961)
Dirigido por Jerome Robbins e Robert Wise
Por Flávio Brun

Apesar da péssima tradução do título (cuja tradução correta seria "História do lado Oeste" ou algo do gênero), "Amor, sublime amor" não é apenas mais um filme de romance, e sim um frenesi de dança e música além, é claro, do amor, sublime amor.

Esse é um filme cuja originalidade é dúbia: por um lado, temos a velha história de Romeu e Julieta, dois amantes que não podem ficar juntos, por pertencerem a grupos rivais e que mesmo assim resolvem ignorar tudo e tentam ficar unidos. O lado original do filme é apresentar essa história já contada tantas vezes em um cenário urbano moderno (na época) e através de um musical que esbanja estilo e boas músicas.

Os personagens do filme se resumem a dois grupos - os Jets, rapazes americanos que sempre dominaram a área da cidade onde moram (o citado lado oeste), e seus rivais, os Sharks, um grupo de porto-riquenhos que se mudou para o território dos Jets e não pensam em sair de lá. O Romeu da história, cujo nome aqui é Tony, é um dos Jets, porém já "aposentado" (deixou a vida de desocupado e trabalha). Tony não quer mais saber das brigas de gangues, porém é convencido por seu melhor amigo Riff a ir a uma reunião onde estarão os membros do grupo rival. É nessa reunião que Tony conhece a Julieta da história, Maria, e instantaneamente se apaixona por ela (e ela também por ele). Entre os personagens do filme, destacam-se também Bernardo, irmão de Maria, e Anita, sua companheira. Bernardo e Riff são os líderes de seus grupos, e ao se verem soltam faíscas de seus olhares de tamanho ódio que têm as gangues.

A história aborda alguns temas de estudo interessantes, como preconceito racial, xenofobia e violência urbana, tornando o filme, por mais clichê que seja, ainda assim uma forma de passar uma mensagem ao público que o assiste.

Uma das coisas que se nota ao assistir o filme são as interpretações - e aqui temos um pouco de tudo. Enquanto George Chakiris (Bernardo) e Rita Moreno (Anita) estão ótimos em seus papeis, infelizmente não podemos dizer o mesmo do resto do elenco. Os componentes dos grupos aparecem relativamente pouco, tornando difícil analisar suas performances (o que importa é que saibam dançar). O pior do filme realmente são os personagens principais - Richard Beymer, como Tony e Natalie Wood, como Maria - ambos parecendo erroneamente escalados para os papéis. Beymer, além de não ter a menor expressão dramática (algo que seu personagem deveria ter), faz um mau trabalho como Tony, com momentos que chegam a ser risíveis, e não tem o porte de rapaz que conquistaria uma garota à primeira vista. Natalie Wood se esforça, porém não convence como Maria, fazendo um sotaque latino extremamente falso (e engraçado, na maior parte das vezes), além de não convencer nas cenas de canto - a voz de canto era de Marni Nixon, uma camaleoa na área de canto que para Maria usa um tom quase lírico, impróprio para Wood.

Ao ler todas essas críticas, é difícil de acreditar que esse foi um dos filmes que mais recebeu Oscars na história (10 ao todo). Enquanto as interpretações podem deixar a desejar, a área técnica do filme impressiona com seus detalhes e precisão. A fotografia do filme utiliza muito bem o potencial de cores que o sistema Technicolor tem a oferecer, com cenários e figurinos coloridíssimos a ponto de encher os olhos (embora não seja tão colorido como os musicais das décadas anteriores).

O ponto mais sensível a se tratar, quando se fala de musicais, são as músicas, o primeiro ponto que os detratores do gênero atacam ao falar mal dos filmes. Este é um exemplo de filme que consegue mesclar com perfeição as músicas e a história, músicas essas cujas letras são ao mesmo tempo inteligentes e contagiantes, tornando difícil para o espectador a tarefa de manter-se parado e não sair dançando. Embora não avancem a história (com exceção de "A boy like that" em que Anita e Maria conversam cantando), as músicas ainda assim ajudam no desenvolvimento dos personagens, revelando seus pensamentos, desejos, frustrações, enfim, tudo o que se mostrado de outra forma não teria o mesmo impacto (esse é um dos grandes trunfos dos filmes musicais). Em "America" temos os porto-riquenhos e suas esposas discutindo sobre as vantagens e desvantagens de se morar nos Estados Unidos, e com isso ganhamos música da melhor qualidade e dança que é de vislumbrar até os menos entusiasmados com o gênero. Em "Tonight" temos um quinteto formado pelos Jets, Sharks, Anita, Maria e Tony, indicando os acontecimentos que virão a acontecer na noite em que se trata a música, com seu ápice no final em que é praticamente impossível não acabar cantando junto com o grupo.

As danças em "Amor, sublime amor" são um motivo a mais para se assistir o filme. Durante alguns minutos em vários pontos do filme, somos presenteados com alguns dos maiores números musicais já vistos na história cinematográfica. O diretor Jerome Robbins foi responsável por essas cenas do filme, e seu esforço se mostra claro em cada cena em que há alguém dançando no filme. Robbins era tão perfeccionista que os atores/dançarinos dançavam até que o diretor conseguisse o que queria e só paravam em caso de um tornozelo sangrando ou algo parecido.

Diferentemente dos musicais dos anos 40 e 50, esse é um filme inovador no sentido de que a história não é apenas uma desculpa para juntar um grupo de músicas, e sim um filme em que as músicas fazem parte da história. Provavelmente um dos poucos exemplares de musicais que não contam uma história feliz, "Amor, sublime amor" também é um dos primeiros filmes do gênero a apresentar mensagens de cunho social, embora, felizmente, o tema não seja algo que os realizadores do filme tentam nos empurrar à força.

Para quem não gosta de musicais, não é esse o filme que vai convencê-los a gostar do gênero, porém para os fãs do gênero, esse é um festival de tudo que o o gênero tem a oferecer - brilhantismo técnico e, claro, ótimas músicas e cenas de dança.

4 comentários:

Pfeffer disse...

Crítica muito bem escrita, Flávio!
Eu só não gostei muito desse filme... achei meio chato...
A única parte que gostei foi a Maria cantando I Feel Pretty!

Bjs!

Anônimo disse...

Concordo com sua amiga aí!
I Feel Preety é "o" momento do filme.
America também é uma boa música, mas a crítica aos EUA ficou meio jogada, pois o roteiro é muito mal desenvolvido.
Aliás, como você mesmo disse, não só o roteiro, mas as atuações também, ajudam a tornar o amor do Tony e da Maria numa coisa nada crível e nada natural.

Anônimo disse...

Ops! "Pretty", não "preety". I misspelled!

Daisy Carvalho disse...

Excelente crítica/análise, embora eu possa discordar em alguns momentos. Gostaria de saber se poderia citar alguns trechos em meu blog, claro citando fonte e autor.
Obrigada :)