domingo, 21 de outubro de 2007

GREMLINS

Gremlins (Gremlins, 1984)
Dirigido por Joe Dante
Por Flávio Brun

Tradicionalmente, todos os anos o mercado cinematográfico americano é inundado de filmes de celebração dos feriados de fim de ano, carregados de espírito natalino onde tudo é feliz e bonitinho. Em 1984, essa regra foi quebrada com o lançamento de "Gremlins", um dos filmes mais anárquicos e divertidos e que tornou-se um ícone da cultura pop dos anos 80.

A pacata cidadezinha de Kingston Falls é o cenário dessa comédia de humor negro (ou seria melhor terror engraçado?) e é onde Billy Peltzer mora com sua família. Seu pai, um inventor cujas criações nunca funcionam, lhe dá de presente de natal um animalzinho peludo e bonitinho, que impressionantemente canta (ou melhor, murmura) e entende tudo que é dito. Esse animalzinho, um Mogwai ("Demônio", em cantonês) possui três regras, que se quebradas podem causar conseqüencias nada agradáveis: não molhar, não expor à luz forte e não alimentar após a meia noite. Como é de se esperar, se há regras, elas serão quebradas em algum momento, e de fato isso acontece.

O filme pode ser facilmente separado em duas partes bem distintas: do começo até os Mogwais formarem seus casulos, e desse ponto até o fim. A primeira parte é o típico filme natalino, muita neve, pessoas felizes e presentes. A segunda metade é a alma do filme, onde o espírito natalino é exorcizado por criaturas verdes que mais parecem pequenos demônios (fazendo jus ao seu nome em cantonês) e a idílica cidade de Kingston Falls torna-se um inferno para seus habitantes. Se há algo a criticar no filme é o fato de o segundo ato perder a narrativa, pois nada mais é que uma sucessão de cenas engraçadas (e muito!) e muita profanidade por conta dos Gremlins.

Na época de seu lançamento, "Gremlins" (juntamente com "Indiana Jones e o templo da perdição") foi um dos responsáveis de mudar o sistema de classificação etária usado nos Estados Unidos, por se tratar de um filme com tema pesado demais para crianças assistirem, mas também não pesado o suficiente para proibir para elas. Isso é justificado no segundo ato, quando os monstrinhos verdes saem pela cidade fazendo suas estrepolias com muita violência e profanidade - eles fumam, bebem, e matam, entre outras coisas. Outro motivo de considerar um filme "pesado" para crianças é a história de Kate (a mocinha do filme), em que ela conta o motivo de ela odiar as festas de fim de ano (algo que pode chocar até pessoas mais crescidas).

A primeira metade da história é pontuada de referências de todos os tipos de filmes. A cidade em que a história se desenrola é extremamente parecida com a cidade do filme "A felicidade não se compra", o clássico definitivo de natal (inclusive aparece uma cena desse mesmo filme no começo). Vários filmes de Spielberg aparecem de forma camuflada, seja em uma marquise de cinema com o nome de produção, um outdoor com um apresentador de rádio que lembra muito Indiana Jones ou mesmo um bonequinho do E.T. em uma prateleira. Na segunda metade, as referências se tornam menos sutis ao serem encarnadas pelas criaturas verdes e tendo seu grande ápice com eles em um cinema cantando uma das músicas de "Branca de neve e os sete anões".

Um dos pontos mais notáveis de "Gremlins" são seus aspectos técnicos. Em momento algum as criaturas parecem inverossímeis, graças ao ótimo trabalho dos responsáveis pelos efeitos especiais, que utilizaram de miniaturas, eletrônicos e stop-motion com primor e que se mostra superior a muitos trabalhos de computação gráfica avançada. Outro destaque é a maravilhosa trilha de Jerry Goldsmith, com o tema das criaturas solidificando mais ainda o tom anárquico do filme.

Um dos ícones dos anos 80, "Gremlins" é uma viagem ao mundo dos pesadelos natalinos, da forma mais divertida possível, e cujos maiores apreciadores serão as crianças, por mais violento que seja. Apenas deixe a pipoca de lado, caso assista depois da meia noite, pois nunca se sabe, pode haver um gremlin escondido pela sua sala.